Cinema africano

Sarah Maldoror retratou no cinema a luta pela libertação da África

A cineasta francesa deixa uma obra incomparável no que diz respeito ao retrato da luta do povo africano.

Na segunda (dia 13), faleceu a cineasta e militante Sarah Maldoror, uma lutadora dos movimentos de luta pela independência africana. Nascida na França, em 1929, Sarah Durados escolheu seu nome artístico em homenagem à poesia Les Chants de Maldoror (Cantos de Maldoror), uma peça de literatura fantástica escrita no sec. XIX pelo Conde de Lautréamont.

Iniciou sua trajetória no teatro com a companhia Les Griots, composta somente por atores negros ou afro-caribenhos. Sua primeira participação cinematográfica foi como assistente de direção no clássico “A Batalha de Argel” (1966), de Gillo Pontecorvo. Um filme perturbadoramente real que trata da luta do povo argelino contra os colonizadores franceses:

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O primeiro filme de sua autoria foi o curta-metragem “Monangambé”, baseado no conto “O fato completo de Lucas Matesso”, do escritor angolano Luandino Vieira, nascido português e preso pela ditadura de Salazar Franco.

O filme foi produzido na Argélia e conta com apenas atores amadores. Uma das cenas mais emblemáticas é a que uma pessoa conversa com um lagarto. Segundo Maldoror “é a metáfora da solidão completa. O lagarto era o único ser vivo com quem aquela personagem podia falar sobre liberdade”. “Monangambé” era o nome usado pelas forças anticoloniais para as reuniões nas aldeias.

Seu primeiro longa-metragem foi “Des Fusils pour Banta”, sobre uma guerrilheira do Partido Africano da Independência de Guiné e Cabo Verde, rodado em Guiné-Bissau, não chegou a ser jamais exibido e foi perdido. A realizadora do filme foi expulsa do país e o material confiscado.

Sua obra mais famosa foi o filme lançado logo após, chamado “Sambizanga” (1972). Passado durante a guerra pela independência de Angola (1961 – 1974), o filme conta a história de Domingos, um militante da luta pela libertação angolana, que é preso pela polícia secreta portuguesa. Domingos resiste à tortura e não delata seus companheiros, sendo espancado até a morte na prisão. Sem saber de seu assassinato, sua esposa vai de um presídio até o outro, tentando encontrá-lo em vão. Foi também baseado em uma obra de Luandino Vieira, chamada “A vida verdadeira de Domingos Xavier”.

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Sua última obra foi o documentário “Eia pour Césaire” (2009), um documentário em homenagem ao poeta surrealista e político, lutador do movimento negro, da Martinica Aime Césaire, que havia falecido um ano antes. Sobre ele, Maldoror já havia feito dois outros filmes “Martinica, Aimé Césaire, um homem, uma terra” e “Máscara das Palavras”.

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A diretora falando sobre seu filme “Le masque des mots”, sobre Aimé Césaire, um dos mais importantes poetas surrealistas do mundo.

Sarah Maldoror foi uma das mais importantes cineastas africanas e uma lutadora incansável contra o colonialismo, o imperialismo e a opressão ao povo negro. Sua potente obra retrata a dimensão de uma luta que permanece viva até hoje e que pertence à memória dos negros de todo o mundo, especialmente daqueles que vivem em condições de exploração desumanas em um dos continentes mais sufocados do mundo pela crueldade capitalista, a África.

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