Remédio para Empacho

Marcos Guião - redacao@revisatecologico.com.br
Natureza Medicinal
Edição 111 - Publicado em: 08/08/2018

Marcos guião

Enquanto o sol se dissolvia no regaço da Serra do Ouro, minha rede balangava no eventual daquele arremate do dia. Esmorecido, dei sentido da brisa correndo módica no avarandado e firmei as ideias no ali, sem deixar a cabeça ganhar força nas aragens do talvez. Ufa! Difícil sem base manter a consciência desadormecida pra num descambar na reclamação ou, pior ainda, no “ai meu Deus, como eu sofro”.

Caraminholava essas ideias porque tava gestando a rema do almoço, que até então tava ali estorvando minha goela. Nada ia e nem nada vinha. Tudo parado, igualim num pântano. Desassossegado, num tinha alento nem de variar as ideias pra achá algum recurso.

Daí me veio das entranhas uma opinião de buscar um amargo. Qualquer um, desde que fosse bem amargo pra revolver as profundezas dos intestinos e despachar o almoço indigesto. Aquele mareio sem dúvida era derivado do empacho causado pelo feijão gordo e a fritada de pastel mais quibe. Combinação das mais descabidas, mas na roça num existe esse tipo de conflito. Dona Linda tinha preparado tudo com muito gosto na intenção de me agradar e, pra alguém com ascendente em touro como eu, dá até pra ver um certo charme culinário nesse arranjo.

Com algum esforço, consegui vencer um pouco daquela letargia e desci da rede na buscação de conforto pro entalo do barrigão. Me arrastei até a cozinha e se dei de cara com Chico da Mata entrando pela porta dos fundos, trazendo nas mãos um feixe de ramo, que num primeiro momento nem consegui distinguir quem seria quem.

Ele me olhou lá no fundo e disparou: “Ocê se abusou no cumê e agora tá no fastio, né mermo? Pois vou lhe tirar disso num tim... Gasta só deslindrar essas pranta aqui.”

A chaleira ganhou água, o fogo mais uma acha de lenha e enquanto falava foi picando e separando o que tinha serventia do que não tinha. Num passou minutos e a caneca chegou fumegando na minha mão. Mareado, aos poucos fui sorvendo o líquido severamente amarujento enquanto ouvia Chico desfiando as qualidades do preparado.

- “Tô lhe dando macaé (Leonurus sibiricus), prantinha abestada que rompe por aí no atôinha das hortas. É ela que vai te salvar desse empacho, pois num tem remédio mió nessas hora. Com ela num garra nada não, tudo se alimpa.”

Aos poucos fui tomando sentido novamente e num deu uma hora pra já nem me alembrar mais do desconforto. Encantado, dei uma pesquisada pra aprofundar o encanto e dei com um monte de nomes dados a ela, como pasto-de-abelha, rubim, mané-magro, mané-turé e mais uma tanteira. Tem indicação também pra combater as gripes rebeldes acompanhadas de febre e doradas pelo corpo, as tosses persistentes, além de vômitos, diarreias e até as perturbações cardíacas mais suaves.

Tive precisão de me abusar da comida pra conhecer remédio tão simples e eficiente.

Inté a próxima lua!


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