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Guia empático sobre como lidar com uma pessoa chata


Essa semana escutei uma pessoa me dizer: "será que ele me acha chata?" ao se referir a uma pessoa que havia se distanciado. Como psicóloga não respondi, claro, mas quis saber mais. Clarificamos um pouco mais, mas não cabe aqui. O que ficou vivo em mim é este rótulo "chata", que várias vezes já dei à alguém e várias vezes já ganhei de alguém também.

Resolvi fazer este "guia" que talvez me ajude, que talvez te ajude, a lidar com "pessoas chatas". Deixem suas opiniões e contribuam, ok amigos?

O QUE É UMA PESSOA CHATA?

Primeiro, é importante a gente entender o que é uma "pessoa chata". Há uma historinha típica que podemos recorrer para responder isto (já pode ter acontecido com você). É a seguinte:

Uma pessoa conversando com outra diz: "Nossa, fulano é muito chato!" e a outra responde "Sério que você acha? Não deve ser o mesmo fulano! Ele é tão legal...".

Já viu isso antes?

Se tivermos como base esta história, podemos perceber que a "pessoa chata" está no olhar de quem vê. Chato e legal são rótulos que damos às pessoas com as quais nos identificamos ou não. Isto tem a ver com a simpatia.

Muitas vezes, a pessoa chata é aquela pessoa que pensa diferente de nós, fala diferente de nós, ainda não compreendeu algo que compreendemos bem, ainda faz devagar algo que fazemos mais agilmente, ou quem sabe uma pessoa que assume algo que ainda não assumimos. Podemos pensar que damos rótulos como estes à pessoas diferentes de nós.

Por isto, não existe uma pessoa chata. O que existe é uma pessoa, que se comporta a sua maneira, que recebe o rótulo de chata ou legal. Compreender isto pode não fazer com que a pessoa que você considera chata passe a ser legal pra você, não é? O que fazer então?

O QUE FAZER COM UMA PESSOA CHATA?

Se você está interessado em uma alternativa mais empática, continue lendo. =) Assim, as estratégias de sumir do mapa, não responder e ignorar não serão  tratadas aqui. Até porque já fazemos isto muito bem e não precisaríamos de um guia.

Estudando, praticando e multiplicando a Comunicação Não-Violenta (CNV) e a empatia, consigo encontrar possibilidades de lidar com estes tipos de rótulos com base na pergunta "O que nos conecta? O que faz com que a gente se aproxime uns dos outros?". Não há uma resposta padrão e única, mas tentei esquematizar uma estratégia em alguns passos. 

Vamos lá?

Passo 1 - Se conscientizar do rótulo:

O primeiro passo para lidar com pessoas chatas é se conscientizar que estamos rotulando. Se conscientizar disso é compreender um pouco do que disse acima: "pessoa chata" é o rótulo que damos a uma pessoa, que pode ser vista de outras maneiras por ela mesma e por outras pessoas as quais convive.

Se conscientizar do rótulo é não determinar à pessoa ao padrão que impomos e considera-la como um ser livre e autônomo das nossas opiniões. Faz uma grande diferença quando compreendendo que "pessoa chata" é simplesmente a minha perspectiva (Leia meu artigo sobre Tomada de Perspectiva aqui no blog!) sobre uma pessoa. 

Compreendo que pode ser um desafio se desprender dos rótulos, uma vez que passamos a vida inteira sendo educados com eles. "Que menina boazinha", "Que menino bagunceiro", "Como você é lindo", "Você é muito esperto, fez tudo direitinho!", "Você é muito atrapalhada...". Crescemos ouvindo julgamentos como estes. Julgamentos são as formas como interpretamos as situações e as pessoas. E é preciso ter um cuidado: rótulos e julgamentos nos limitam, sendo eles "bons" ou "ruins". Ser uma menina "boazinha" atende às necessidades de quem? Fazer "tudo direitinho" para quem?

Esta é uma conversa que dá outro artigo... Mas daí vem o próximo passo.

Passo 2 - Observar o contexto:

Quando conseguimos nos desprender da linguagem estática que o rótulo nos trás, conseguimos também olhar para o dinamismo das pessoas e situações. Ou seja, será mesmo que a pessoa "é chata" o tempo todo? Em quais situações você considera a pessoa chata? O que ela faz, o que ela fala que o faz pensar isto?

Talvez você consiga identificar alguns fatos específicos que o faz pensar desta maneira e também outros fatos que o faz pensar diferente. Talvez você encontre algo que a pessoa fez ou falou que você considera legal e se surpreenda com o fato de conseguir vê-la como ela é: um ser diverso, contraditório e surpreendente.

Se sim, talvez faça sentido o passo seguinte.

Passo 3 - Se responsabilizar pelo rótulo:

Se compreendemos que "pessoa chata" é um rótulo que damos a uma pessoa, que na verdade, funciona de modo dinâmico e não estático, podemos nos responsabilizar pelo que pensamos sobre ela. Façamos isso dizendo: "Eu penso que esta pessoa é chata" e não "Esta pessoa é chata". Vê a diferença?

Se você quiser mergulhar mais fundo na empatia com esta pessoa, você pode dizer "Quando eu vejo esta pessoa fazer isto, quando eu ouço esta pessoa dizer isto, eu me sinto tão entediado". Meus olhos brilham com tanta responsabilidade!

Se responsabilizar pelo que pensamos e sentimos é muito importante! Por que a pessoa deveria carregar um rótulo que, na verdade, diz mais respeito a você do que a ela?

Identifique o que acontece dentro de você quando você vê ou escuta a pessoa fazendo ou dizendo determinada coisa. E aí, se você conhece a CNV, já deve prever o próximo passo.

Passo 4 - Se posicionar!

Agora que você já sabe como você se sente diante desta pessoa e em qual contexto você se sente assim, você pode se posicionar. Este é um passo que exige autoconhecimento, pois vai exigir que você compreenda qual é a necessidade por trás do rótulo, por trás do seu sentimento.

Vamos imaginar que você pense que uma pessoa é chata quando ela "fala demais". E então você pode constatar que "falar demais" também é um julgamento e se perguntar: o quanto é demais para mim? Talvez você perceba que quando conversa com esta pessoa, você não vem encontrando espaço para dizer também o que você pensa e, em algumas conversas que tiveram, ela falou, digamos, em 90% do tempo. Daí veio o rótulo "que pessoa chata", que, na verdade, estava encobrindo uma necessidade sua: ter espaço de fala.

Talvez você compreenda o quanto estes fatos não estejam contribuindo para aproximar vocês, pois há uma necessidade de troca e amizade, que talvez só ocorra se ambos tenham o espaço para expor o que pensam e o que sentem.

Identificar isto é muito valioso! Pois é neste momento que você pode se posicionar. Dizer claramente para a pessoa o que você quer. É interessante fazer isto usando uma linguagem positiva e bem específica. Por exemplo:

"Fulano, algumas vezes quando nos encontramos escutei você falar sobre você mesmo na maior parte do tempo e não houve espaço para que eu pudesse dizer o que eu penso e sinto. Quando isto acontece eu me sinto entediado. Eu valorizo em uma amizade o espaço para trocas. Em nossas conversas você pode abrir o espaço para a minha fala, quem sabe me perguntando "o que você pensa?"

Ou você pode simplesmente dizer:

"Fulano, eu valorizo que haja um espaço de trocas entre nós. Em nossas conversas você pode abrir o espaço de fala para mim e talvez me perguntar o que penso sobre o que conversamos?"

Você pode expressar o que quer de várias maneiras. O importante é que você compreenda o que você realmente precisa, qual é a sua necessidade, para se sentir melhor na relação.

E o último passo.

Passo 5 - Aceitar o movimento do outro:

Pode ser que você siga estes passos, ou até outros passos, mas continua acontecendo a mesma coisa. Compreenda que cada pessoa tem o seu movimento e o seu tempo. Você compreendeu o que é importante para você nesta relação, mas talvez você precise compreender também o que é importante para a outra pessoa.

Escuta? Compreensão? Acolhimento? Reconhecimento? O que será que é importante para a outra pessoa? Você só saberá disso perguntando.

Quem sabe você pode tentar assim:

"Fulano, estou escutando você me dizer sobre você em nossas conversas. Isto me fez sentir aflito e entediado em alguns momentos, por também desejar falar sobre o que penso. Quero compreender você. Você está precisando de escuta e acolhimento?"

Talvez a pessoa realmente precise e talvez ela se sinta tão acolhida que comece a te escutar mais também. É o poder da empatia.

DEIXANDO CLARO

O que quero deixar claro é que este guia não serve para funcionar. Assim como a empatia e a Comunicação Não-Violenta, estas são estratégias que podemos fazer para nos aproximar das pessoas. Sobretudo quando realmente queremos.

Quando escolhemos a empatia e a CNV, precisamos saber que estas não são técnicas para modificar as pessoas ou convencê-las de algo. Mas são tentativas de nos aproximar delas, compreende-las e nos enriquecer com nossas relações.

Por isto, este é um convite para que você possa mergulhar cada vez mais fundo dentro de você mesmo, compreendendo o que você espera de você e dos outros e como você pode comunicar isto.

Quer dar esta dica a um amigo? Marque ele! Deixe sua dica também =)

Camila Marques é psicóloga, especialista em Arteterapia e co-criadora da Escola de Empatia. Há 7 anos realiza treinamentos sobre habilidades de empatia e comunicação. Estuda, vivencia e compartilha a Comunicação Não-Violenta (CNV).

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