Por thiago.antunes

Rio - Há exatos dez anos, o filme ‘Saneamento Básico’ provocava o debate sobre o desprezo que os governos e políticos destinavam às pequenas cidades no Brasil. A fictícia Linha Cristal não possuía verba para construir uma fossa — sistema muito comum no interior do país.

Os moradores aproveitaram uma brecha do Orçamento — que tinha uma rubrica destinada a um filme — e de forma criativa decidiram converter a obra artística em forma de arrecadação. Uma ficção sobre um ‘monstro do esgoto’ foi criada. A comédia de Jorge Furtado é uma crítica à nossa situação orçamentária do saneamento.

As cidades se expandem no Brasil sem planejamento. Do ponto de vista econômico, não há preocupação com zonas de leve industrialização, estudos de impacto ambiental, desenvolvimento de áreas comerciais próximas nem de estradas vicinais ou estrutura de transporte para escoar a produção ou facilitar o trânsito das pessoas e mercadorias. A malha ferroviária também está desmantelada.

Como pensar uma cidade? Dando voz ao surgimento de observatórios mantidos pela iniciativa privada e pelo ambiente acadêmico público, muitas vezes as únicas referências para os novos gestores — aqueles que não tomam decisões estratégicas na intuição, mas na séria análise da radiografia das cidades. 

Planejar é essencial para ter qualidade de vida. Sem isso, atrairemos menos moradores de classe média e menos oportunidades de negócio. Na política tradicional, a obra “que fica embaixo da terra” não ganha interesse eleitoral — outro erro que gerou um país com obras faraônicas, sem um metro de manilhas.

Dados da OMS revelam que a cada real investido pelo governo em saneamento básico, o sistema de saúde economiza R$ 4 no tratamento de doenças causadas pela ausência de tratamento de água e esgoto.

Assim como no filme, será necessária a mobilização da sociedade para propor alternativas, gerar novas políticas públicas, parcerias, ideias. Sem isso, não conseguiremos sair da ‘fossa’, da situação de abandono que a maioria da população vive. E a saída para o Brasil está nas pequenas e simples soluções das pequenas e médias cidades, onde há possibilidade de criar novos modelos e inspirar o país.

Breno Freitas é Assessor Parlamentar da Casa Civil

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