Como tornar nossas crianças mais inteligentes (de verdade)

Como tornar nossas crianças mais inteligentes (de verdade)

Como o motorista de Max Plank nos ensina a diferenciar dois tipos de conhecimento, por que as mais populares métricas de inteligência estão erradas e a escola tradicional "emburrece"

Ainda lembro da minha infância, quando assistia ao Passa ou Repassa no SBT e ficava tentando acertar as perguntas do Silvio Santos. Eu me sentia bem inteligente quando as acertava. Afinal, naquele tempo, se você sabia as respostas, é porque era inteligente. O tempo passou, o Silvio Santos deu lugar ao Gugu e ao Celso Portiolli no comando da atração, e o Google passou a responder a todas as nossas questões antes mesmo de terminarmos de digitar a pergunta.

E quando penso na relação do conhecimento e da inteligência, lembro dessa história apócrifa do bilionário Charlie Munger, sócio de Warren Buffett, contada em seu discurso em 2007, para os formandos em direito da USC:

Max Planck, depois de ganhar o Prêmio Nobel, percorreu a Alemanha dando sempre a mesma palestra sobre a nova mecânica quântica. Com o passar do tempo, seu motorista memorizou a palestra e certa noite disse:

- Professor Planck, já que é tão chato ficar em nossa rotina, o senhor se importaria se eu fizesse essa palestra em Munique e você simplesmente se sentasse na frente usando o meu chapéu de motorista?

- Por que não?, disse o cientista.

E o motorista deu uma longa palestra sobre mecânica quântica. Ao final, um professor de física levantou-se e fez uma pergunta complicadíssima. E o orador/motorista respondeu:

- Bem, eu estou surpreso que em uma cidade avançada como Munique eu receba uma pergunta tão elementar. Vou pedir ao meu motorista que responda.

Há várias maneiras de se entender essa história. Primeiramente, a facilidade com que as pessoas compram discursos prontos. Ou ainda, a perspicácia e imaginação do motorista ao responder. Mas se parece tão óbvia a preponderância da imaginação sobre o conhecimento quando falamos de inteligência, por que o “sistema” na maioria das vezes ainda recompensa os donos do conhecimento expresso com pompa e não a imaginação?

A resposta não é simples, mas imagino que comece pelo sistema de ensino. Criado para atender à demanda por mão de obra da Revolução Industrial, sua prioridade era formar pessoas obedientes e disciplinadas capazes de operar máquinas. Mesmo os testes tradicionais de inteligência foram criados para determinar quais estudantes tinham maior capacidade de absorver conhecimento acadêmico por meio do método tradicional de ensino. O trabalho de imaginar ficava limitado à elite capaz de pagar tutores e frequentar centros internacionais de ensino, algo limitado a pouquíssimos.

Recentemente, li que um dos segredos do ensino dos países de melhor performance escolar atualmente é que até os sete anos as crianças não fazem muita coisa além de brincar. Basicamente, a ideia é estimular a imaginação ao máximo. No livro “Cleverland” a autora Lucy Crehan pesquisou os países com melhor performance no teste PISA, que determina o nível da qualidade do ensino em dezenas de países. Ela aponta que a maioria desses países com altas notas no PISA atrasa a escolaridade formal até que as crianças tenham seis ou sete anos. Em vez disso, eles usam a educação dos primeiros anos para preparar as crianças para a escola através da aprendizagem baseada em jogos e focando as habilidades sociais. Em seguida, eles mantêm os alunos em cursos acadêmicos até a idade de 16. Mesmo Cingapura, que desvia alguns alunos para uma atividade profissionalizante com a idade de 13, garante que os alunos nessas escolas mantenham elevados padrões em leitura e matemática.

Outro ponto que chama atenção é o recorrente número de pioneiros em tecnologia que estudaram em escolas com sistema de ensino Montessori. Dos fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, a Jeff Bezos, fundador da Amazon, até o inventor Thomas Edison, todos passaram por esse método de ensino criado pela italiana Maria Montessori, no qual a liberdade e criatividade são peças centrais.

Compare algumas diferenças do método Montessori para a escola tradicional:

·     Salas de aula com idades variadas, com crianças de 2 ½ anos ou 3 a 6 anos de idade são de longe as mais comuns.

·     O aluno escolhe as opções atividades que deseja fazer dentro de um intervalo prescrito.

·     Blocos ininterruptos de tempo de trabalho, idealmente três horas

·     Um modelo construtivista ou de "descoberta", onde os alunos aprendem conceitos de trabalhar com materiais, e não por instrução direta

·     Liberdade de circulação dentro da sala de aula

Imagino que ainda levará algum tempo para sistemas de ensino como o do Brasil se livrarem da influência da Revolução Industrial, que preparava estudantes em série para trabalharem em fábricas. Sem falar na pressão das famílias por uma escola“mais rígida e disciplina”. Quem precisaria de imaginação diante de um tear ou uma caldeira? Ou ainda, como lidar com uma criança contestadora e que desafia tudo que você acredita como certo? Não vai ser fácil, mas o futuro pertence aos que tiverem imaginação e sejam capazes de fazer. Como disse a escritora Sarah Ban Breathnach: “O mundo precisa de sonhadores e o mundo precisa de ‘fazedores’. Mas acima de tudo, o mundo precisa de sonhadores que façam.

Se chegou até aqui, vale ver este vídeo do brilhante cientista Richard Feynman explicando o que constitui o conhecimento.

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E aqui você encontra outros posts que escrevi:

Regina Simião

Assessora Pedagógica do Programa A União Faz a Vida do SICREDI.

7y

Acredito que a criança merece atenção enquanto brinca, porque é no ambiente lúdico e pela imaginação que ela chegará a um conhecimento significativo. Por isso, concordo inteiramente com a sua colocação. Parabéns!!

Rosana Ravache

Professora no Univag - Centro Universitário

7y

Muito bom. Este raciocínio pode ajudar aos pais que não prestam atenção no tempo disponibilizado para o "brincar" das crianças. É neste tempo que elas desenvolvem a criatividade e a inteligência para o resto da vida.

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