Em seu best-seller Capitalismo Consciente, a dupla John Mackey e Raj Sisodia faz uma singela analogia entre borboletas e pessoas. Como pessoas, podemos optar pela existência de lagarta, consumindo o máximo que pudermos do mundo e devolvendo quase nada. E, como elas, que podem se tornar borboletas, temos capacidade de evoluir de modo tão formidável a ponto de nos transformarmos em seres que criam valor para os outros e ajudam a tornar o mundo mais bonito. Mas, ao contrário delas, não podemos esperar a natureza desencadear nossa evolução a uma consciência mais elevada. Para nós, evoluir é escolha. Empresas e marcas (criações de pessoas) têm diante de si, diariamente, a escolha de evoluir e adotar um propósito maior para dar sentido às suas existências. Cada vez mais esta pode ser a escolha pela vida ou pela morte lenta e gradual.

E as agências, como ficam neste contexto? A resposta é simples: também precisam de propósito. Não se trata de dizer do que você é capaz. Trata-se de dizer, corajosamente, em que você acredita. E agir no mundo, claro, porque de teoria e boas intenções estamos mesmo cheios. Esse insight não é novo, admito, mas foi brilhantemente abordado recentemente num artigo de Michael Lee sobre a BETC na Forbes. Nele, Lee faz considerações sobre como deveria ser a agência do futuro. Além daquilo tudo que já sabemos, Lee lembrou do detalhe que deveria estar quebrando a cabeça de quem pretende continuar trabalhando em publicidade nos próximos anos: em que você realmente acredita, para além da publicidade? Que tipo de empresa é a sua, por que está no mundo e em que bases e crenças se sustenta?

Ele observa, sabiamente, que as agências de publicidade, em sua maioria, se escondem embaixo das barras das saias (e crenças) de seus clientes, procurando acreditar no que eles acreditam e ter pouca ou quase nenhuma voz individual. No máximo há coragem de discorrer sobre algumas crenças mais óbvias, vinculadas ao umbigo da própria publicidade. Mas a questão é que hoje agências competem no mercado com uma gama infinitamente maior de players, entre eles empresas de tecnologia e outros muitos negócios que escancaram por aí suas visões ampliadas e planos de fazer coisas extraordinárias (e, obviamente, ter gordas ações na bolsa).

Lee acredita ter sentido um sopro dessa visão ao visitar a nova sede da BETC, inaugurada recentemente num lugar improvável chamado Pantin, a cerca de 6 km do centro de Paris, no prédio restaurado onde funcionava a loja de departamentos “Les Magasins Géneraux”, um símbolo da Paris industrial abandonado aos grafiteiros desde 2004. A BETC restaurou o prédio inteiro, mas ocupa apenas parte dele. O restante está atraindo empreendimentos como a Filarmônica de Paris ou galerias de arte. Em 2017, a BETC será a curadora de programas culturais voltados para tecnologia, inovação, arte, música e arquitetura, seguindo sua jornada de impacto social e conexão com a comunidade local, contribuindo para a construção, por que não, do futuro de Paris. Um futuro sustentável.

Ah, faltou lembrar que se trata, também, de uma ótima agência de publicidade. Claro que nem todos precisam – ou podem – mudar o mundo. Mas o projeto BETC é, sem dúvida, inspirador por ter o pé fincado na realidade e no reconhecimento do seu quinhão de responsabilidade com o que está aí. Ela enxergou para além da publicidade, e nem precisou ir longe: bastou olhar no seu entorno.

E você? Em que você acredita?