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Luciano Pires -

Nossa determinação de perseguir a verdade muitas vezes nos faz acreditar que toda questão tem dois lados, nem mais, nem menos. Junte-se a isso uma pitada de ignorância e pronto! Pra sair do conflito pro confronto é um pulo,

Posso entrar?

Amigo, amiga, não importa quem seja, bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Este programa chega até você com o apoio do Itaú Cultural e do Auditório Ibirapuera que, como sempre, estão aí, a um clique de distância. facebook.com/itaucultural e facebook.com/auditorioibirapuera.

E quem vai levar o exemplar de meu livro Me engana que eu gosto é a Gabriela…

“Oi Luciano. Tudo bem? Aqui quem está falando é a Gabriela, eu sou de Recife e eu conheci o teu trabalho através do meu namorado. O primeiro podcast que eu ouvi foi Tênis e frescobol e foi incrível ouvir aquilo porque foi justamente em uma fase em que eu estava super decepcionada com várias pessoas, que se diziam amigas mas, que não me queriam muito bem. Emocionei bastante com o podcast Pinxado no muro 2 e eu fiquei com uma frase que você disse, na cabeça. “Quer educar um filho? Comece vinte anos antes”. Luciano. Eu sempre tive o sonho de ter filhos mas hoje eu me pergunto: em que mundo eu vou colocá-los? Eu não sei se estou ficando muito sensível ou apenas mais humana. Tudo o que eu vejo na televisão, nas noticias, me abalam profundamente. Essa semana mesmo eu chorei de soluçar quando eu vi a notícia de uma senhora que tinha espancado um cachorro com um pedaço de madeira. E encho os olhos d’água assistindopessoas se a abertura das olimpíadas e imaginando um atentado ali. Quantas pessoas inocentes não iriam morrer? E quantas ainda vão. Ando me tornando descrente de tudo. Eu acho que muitas pessoas se fazem de cegas pra evitar o sofrimento. Porque se importar com o próximo não é uma tarefa tão simples. Eu gostaria de poder abraçar o mundo, de pegar cada cachorrinho que eu vejo na rua e levar pra casa e adotar todas essas crianças que ficam nos sinais pedindo dinheiro. Mas aí eu me lembro que estou super atrasada pro trabalho, que eu tenho que estudar um monte de matéria acumulada, eu tenho só 24 anos, eu ainda moro com os meus pais e o que eu ganho só dá pra pagar minhas contas. Então logo todo esse sentimento ruim é esquecido. E Luciano… assim… não tem sido fácil ver tanta injustiça e crueldade. E é daí que me vem o seguinte questionamento: será que eu preciso me fazer de louca pra eu ser feliz lucidamente? Obrigada Luciano por encher os meus dias de esperança com os seus podcasts. Um grande abraço.”

Puxa, Gabi, eu entendo sua angústia de jovem, eu ei como é viver bombardeado pelas notícias ruins que nos cercam e a questão é mesmo desenvolver uma armadura emocional… Eu não sei se é necessário se fazer de louca pra viver lucidamente, como você colocou. Me parece que o que devemos fazer é compreender que o mundo, no seu gigantismo, sempre terá injustiças e injustiça, miséria e violência dão audiência! Então temos que compreender que não seremos nós a acabar com elas. A única reação possível é trabalhar para acabar com as pequenas injustiças que nos rodeiam, aquelas que estão ao alcance de nossas mãos. Se todos agissem assim, já pensou, hein?

Bem, no programa de hoje tratarei de certa forma de um caminho para combater injustiças, que é a forma como nos prevenir dos confrontos. Obrigado pela sua mensagem!

Muito bem. A Gabriela receberá um KIT DKT, recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculino e feminino.  PRUDENCE é a marca dos produtos que a DKT distribui como parte de sua missão para conter as doenças sexualmente transmissíveis e contribuir para o controle da natalidade.  O que a DKT faz é marketing social e você contribui quando usa produtos Prudence. www.facebook.com/dktbrasil

Vamos lá então! Ô Lalá, hoje o papo aqui é confronto.

Na hora do amor, use

Lalá e Luciano – Prudence.

Meu livro ME ENGANA QUE EU GOSTO tem como subtítulo “Dois meio Brasis jamais somarão um Brasil inteiro”. Nele eu trato da divisão que sofremos ao longo das últimas décadas, um trabalho minucioso de simplificação de conceitos e de problemas que nos fez acreditar que toda questão tem dois lados, nem mais, nem menos. Ou é preto ou é branco, ou é contra ou a favor, não é assim hein?

Mas na maioria das vezes a verdade não está em dois extremos simplificados, mas num meio complexo, como um cristal com muitas faces. Essa simplificação nos mantém presos a um modelo de contestação baseado na argumentação onde duas ideias conflitantes são defendidas ou criticadas. O nome disso é debate. E um debate, por definição, considera que sempre haverá um outro lado. Assim, como sempre tem de haver outro lado, não é difícil entrar no território do relativismo, quando começam a surgir palanques para todo tipo de opinião e loucura. Esse assunto é muito complexo, não dá para mergulhar fundo aqui. Se você se interessar, procure por “Dialética” no Google e mergulhe fundo.

Eu vou focar hoje aqui na questão dos conflitos e confrontos. Vamos ouvir o que Mario Sergio Cortella tem a dizer a respeito?

“Temos que lembrar, antes de mais nada que só existe relação de poder porque humanos somos no plural. Não existiria a ideia de poder se fosse um único humano. Como nós somos homens e mulheres em multiplicidade, aquilo que os antiugos chamavam de multitude, uma profusão, e cada um e cada uma de nós tem uma autonomia, propriedade sobre si mesmo ou sobre si mesma e como nós temos que viver em harmonia, minimamente, é necessário que o poder se estabeleça. Ou do ponto de vista da organização da vida ou como um risco até para essa organização. Ora, nesta direção, a convivência costuma gerar conflito. Por exemplo, numa família, o conflito vem à tona. Divergência de posição, qual o horário pra se alimentar no domingo, a televisão fica mais alta ou mais baixa, se está frio, um quer cobertor o outro não quer. Conflito é parte inerente à convivência. É diferente de confronto. Confronto é a tentativa de anular a outra pessoa. E do ponto de vista mais sério, o conflito ele é positivo quando ele leva a uma melhoria da condição de convivência. O confronto é sempre negativo. Porque o confronto leva à busca da anulação da outra pessoa, da outra ideia e portanto, ele é esmagador. No conflito se busca convencer e desse ponto de vista, o conflito faz parte da vida mas, em nenhum momento ele deve, embora aconteça, ele deve se transformar em confronto. No confronto há perda, no conflito há mudança.”

Dois pra lá, dois pra cá
João Bosco
Aldir Blanc

Sentindo frio em minha alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
São dois pra lá, dois pra cá

Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor

Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardenia
E não me perguntes mais

A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias

No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante band aid no calcanhar

Eu hoje me embriagando
De uisque com guaraná
Ouvi tua voz murmurando
São dois pra lá, dois pra cá
Dejaste abandonada la ilusión
Que había en mi corazon por ti

Hummm…. Você sabe o que acontece aqui cada vez que toco Elis Regina, não é? Eu  fico de joelhos, é claro… A Elis canta DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ, de João Bosco e Aldir Blanc, um daqueles hiper-mega-boga-clássicos como não se fazem mais. Esses dois pra lá, dois pra cá não tratam de conflito, mas de harmonia…

Muito bem, você ouviu lá o Cortella: o conflito busca convencer, o confronto busca vencer… Olhe em volta aí ó. Veja como nossa vida está rodeada de confrontos. É meu time contra o seu, minha escola contra a sua, minha empresa contra a dele. No Faustão, no Big Brother, no Masterchef é o time A contra o time B, o João contra a Maria. No cenário político é o partido A contra partido B. É esquerda contra a direita. É o Estado Islâmico contra o ocidente. Qual é o esporte que mais cresce no mundo, hein? É o MMA, onde um marmanjo enche o outro de porrada… até vencer. Pegue um jornal. Qualquer jornal. Dê uma olhada na capa… É o fulano conta o cicrano, o grupo x contra o grupo y, o país B contra o país C. Cara, e como a gente gosta disso… Você já comparou os embates políticos chochos de hoje em dia com aqueles que aconteciam nos anos 80 ou 90?

 

Porque brigamos
Neil Diamond
Rossini Pinto

Quanto mais eu penso em lhe deixar
Mais eu sinto que eu não posso
Pois eu me prendi a sua vida
Muito mais do que devia
Quando é noite de regresso você briga por qualquer motivo
Confesso que tenho vontade de ir pra bem longe, e pra nunca mais te ver

Ó meu amado porque brigamos
Não posso mais viver assim sempre chorando
A minha paz estou perdendo
A nossa vida deve ser de alegria, pois eu te amo tanto

Já não consigo esquecer as tolices que você diz nessas horas
Já tentei mais não posso
Tenho a impressão que do amor que uma dia existiu entre nós
Hoje só resta uma chama apagando
O medo de ficar só me apavora
E eu me desespero
Só me resta pedir sua ajuda
Pedir que você não me deixe meu amor

Ó meu amado porque brigamos
Não posso mais viver assim sempre chorando
A minha paz estou perdendo
A nossa vida deve ser de alegria

Rararara… Você ouviu Orestes Quercia e Leonel Brizola indignados no programa Roda Viva! Que diferença pra hoje em dia, né?

Ao fundo você aí você escuta Diana, com PORQUE BRIGAMOS, que foi um baita sucesso em 1972. Essa música é uma versão que Rossini Pinto escreveu para o sucesso I am…I Said, que Neil Diamond lançou em 1971…

I am, I said
Neil Diamond

L. A.’s fine the sun shines most the time
And the feelin’ is laid back
Palm trees grow and rents are low
But you know I keep thinkin’ ’bout
Making my way back
Well I’m New York City born and raised
But nowadays I’m lost between two shores
L. A.’s fine
But it ain’t home
New York’s home
But it ain’t mine no more
I am
I said
To no one there
And no one heard at all not
Even the chair
I am
I cried
I am said I
And I am lost and I can
Even say why
Leavin’ me lonely still
Did you ever read about a frog
Who dreamed of being a king
And then became one
Well except…

Eu sou, eu disse

Los Angeles é legal, o sol brilha quase o tempo todo
A sensação é de tranquilidade
Palmeiras crescem e os aluguéis são baixos
Mas, sabe, eu fico pensando sobre
Fazer meu caminho de volta

Bem, eu sou de Nova Iorque, nascido e criado
Mas agora eu estou perdido entre dois litorais
La é legal, mas não é meu lar
Nova Iorque é um lar mas não é mais o meu

Eu sou, eu disse
Para ninguém
E ninguém ouviu nada
Nem mesmo a cadeira [do psiquiatra]
Eu sou, eu chorei
Eu sou, disse eu
E eu estou perdido, e não posso nem dizer o porquê
Deixando-me mais solitário ainda

Você já leu a história do sapo que sonhava em ser um rei
E então tornou-se um
Bem, exceto pelos nomes e algumas outras mudanças
Se você falar de mim, a história é a mesma

Mas eu tenho um vazio bem lá no fundo
E eu tentei, ele mas não me abandona
Eu não sou um homem que gosta de jurar
Mas nunca me importei com o som de estar sozinho

Eu sou, eu disse
Para ninguém
E ninguém ouviu nada
Nem mesmo a cadeira [do psiquiatra]
Eu sou, eu chorei
Eu sou, disse eu
E eu estou perdido, e não posso nem dizer o porquê

Pois é… Orestes Quercia e Leonel Brizola em pleno confronto com jornalistas, fazendo tudo aquilo que se evita que aconteça nos debates de hoje em dia onde o tempo todo tem um mediador pedindo que a plateia não se manifeste, que o candidato não se exalte… O tempo todo tentam estimular o conflito de ideias enquanto proíbem o confronto dos candidatos. Proíbem exatamente aquilo que a gente quer ver, não é?

Houve um tempo em que os homens lutavam por comida, território, status, parceiros. E também adoramos observar outros lutando para ver quem são os melhores. Entenda “lutando” como dando uma porrada na cara do outro ou cozinhando um prato melhor que o outro. Milhares de anos depois, já não tacamos uma pedra na cabeça do vizinho e tomamos o que queremos, mas isso não quer dizer que parte de nosso cérebro não esteja pensando nisso… Lutar é parte de quem somos e por isso gostamos de ver outros lutando. A maioria das pessoas diz que odeia a violência, mas muitos a praticam nos atos do dia a dia ou a consomem através de filmes, esportes e outros meios. É, portanto, normal, humano, gostar de um confronto. Ponto. Vivemos numa sociedade que adora assistir o confronto entre os outros… e note que eu disse “entre os outros”… e esse contexto acaba criando uma cultura do confronto que se apresenta nas mais simples ações.  Treinados diariamente a esperar um ataque, nos transformamos em indivíduos desconfiados, aliás, numa sociedade desconfiada, onde todos são culpados, todos querem tirar vantagem, todos querem te enganar, até prova em contrário. Estamos sempre na defesa.

Você se sente assim?

Muito bem. Nesse ambiente de incentivo ao conflito e confronto é muito fácil perder a mão e partir para a destruição do adversário, que já transformamos em inimigo. E nestes tempos de mídias sociais, é lá que a coisa se revela.

O jornalista Felipe Moura Brasil publicou comentários que sintetizam exemplos de petulância virtual que desembocam em conflitos com os quais lidamos desde que começamos a expor nossas ideias na internet. Eu vou usar o texto dele como base para este programa.

Primeiro, ele fala sobre o leitor idiota versus o leitor maduro. Dá pra usar para ouvinte e espectador também.

A diferença básica entre o leitor idiota e o leitor maduro é que o idiota contesta imediatamente tudo que lhe parece estranho ou contrário às suas convicções. Já o leitor maduro pesquisa no restante da obra do autor, dos autores que este indica e em qualquer site de busca os fatos, conceitos e raciocínios incompreendidos ou ignorados, para só depois se pronunciar a respeito.

Em outras palavras: o leitor idiota está sempre convicto da ignorância alheia. E o leitor maduro desconfia primeiro da sua própria ignorância.

Você está ouvindo HARMONIA SELVAGEM, com o grupo Quebrando o Galho, diretamente de Tatuí.

Depois o texto do Felipe continua com a “discordância” pública não justificada. É natural que quem tem a ilusão de ter uma opinião tenha também a ilusão de discordar de quem tem uma opinião diferente. Mas “discordar” publicamente de alguém sem dizer por que, evitando que seus próprios argumentos — caso existam — sejam examinados por todos, é apenas o anúncio de uma fuga mental e moral. Fica claro que o propósito consciente ou inconsciente do autor da crítica é induzir os outros leitores a desconfiar do autor do post. A “discordância” pública não justificada é normalmente a reação histérica imediata a uma ideia — ou a toda uma obra — contrária às crenças do suposto discordante.

Esta semana publiquei um texto no Facebook. Entrou um sujeito lá e comentou: “O cara é totalmente controverso, incerto”. E pronto. Não argumentou, não disse em que pontos estariam minha incerteza e controvérsia. Apenas atacou o autor do post. Sem capacidade de refutar a ideia do texto e tendo aberto mão de razões para crer no que crê, o crítico tenta levar os outros a fazer o mesmo que ele, insinuando que as razões existem em algum lugar, embora ele não as apresente agora.

Em outras palavras, o homem intelectualmente honesto — consigo, antes que com os demais — ou diz por que discorda ou fica em silêncio até o momento de dizê-lo. O resto é jogo de cena, neurose pura, histeria militante, pilantragem virtual e/ou parasitismo da página alheia.

Outro ponto, o “É quase sempre mais ou menos assim…” Funciona assim. Após a leitura de um texto que contraria suas convicções, inconscientemente formadas na base do “ouvi dizer”, o sujeito chega falando do que não sabe e geralmente acusando você de alguma coisa, como radical, elite, extremista, fascista, machista, nazista, alguém que só quer chamar atenção, alcançar reconhecimento e blá blá blá;

Aí você mostra que ele não sabe do que está falando e como suas acusações não fazem o menor sentido.

Então ele — se é que não muda de assunto — começa a fazer perguntas retóricas ou desafiadoras sobre aquilo que antes ele não sabia, na esperança de que você resuma livros inteiros — que ele faz questão de ignorar — na seção de comentários de um único artigo.

Você diz que ele deveria estudar o assunto antes de repetir frases feitas e com muito boa vontade indica até uma bibliografia inicial.

Ele fica ofendido e, com ares de vítima, diz que só queria saber tais e quais coisas… e aperta o acelerador das ofensas.

Você tem visto coisa assim, hein? Esse é um quadro clínico clássico de histeria diante do qual só resta a você recomendar terapia, análise ou um psiquiatra. Como hoje, no entanto, até meditação de maconheiros na praia é chamada de terapia, o sujeito pode até alegar que já faz tal coisa, a despeito de todo o evidente conjunto de sintomas que apresenta.

Então você desiste da recomendação direta e descreve num texto como este o padrão de comportamento do sujeito, na esperança de que ele e os demais histéricos se reconheçam na descrição e quem sabe procurem por você privadamente para pedir uma indicação de verdade. Você espera que eles demonstrem que se tornaram pessoas capazes de fazer interrogações educadas sobre assuntos que nunca examinaram a fundo. Você espera que reconheçam a ignorância e se mostrem dispostos a sair dela. Você torce para que se mostrem capazes de estudar assuntos para além da propaganda da grande mídia e do sistema de ensino. Que não tenham o pavor de se sentirem “ofendidinhos” pelo conhecimento e pela necessária provocação daqueles que os querem livres da alienação, da ignorância e desse jeitinho melindroso e frouxo de ser.

Não que você espere, com isso, mais do que novos desaforos, vitimismos e incompreensões. Afinal, já resumia Dercy Gonçalves: “cuida do pé, cuida do cabelo, mas por dentro tá uma merda”

Hummmm…agora é Gilson Peranzzetta Trio com DE CONVERSA EM CONVERSA…

Outro ponto levantado pelo Felipe: O abandono da inteligência

Uma das maiores provas de abandono do exercício da inteligência é ler um texto que expõe as mentiras de outro e dizer: “Cada um com a sua opinião”. Quantas vezes você já ouviu isso, hein?

É o tal relativismo moral, uma visão baseada na ideia de que não existem padrões definitivos do bem ou do mal, cabendo a decisão às preferências e ao ambiente da pessoa. Assim, nenhuma declaração ou posição pode ser considerada absolutamente “certa ou errada”, “melhor ou pior”. Os princípios do relativismo moral só podem ser usados para justificar ou permitir certas ações, nunca para condená-las. Agora imagine se todos em uma sociedade realmente agissem como se o certo e o errado fossem puramente questão de opinião… quanto tempo você acha que essa sociedade levaria para implodir, hein? Aliás, numa sociedade assim, passa a valer a verdade de quem pode mais, não é?

“Cada um com sua opinião” é muito bonito quando se discute a cor da camisa, a preferência pelo time do coração ou pela música de McBinLaden. Mas quando se trata de ações que têm consequências diretas sobre a sociedade, “cada um com sua opinião” uma ova. Quando o certo e o errado se transformam em questão de opinião, torna-se incoerente falar de moralidade. Quando cada um define o que é certo ou errado, não precisaremos mais de leis, vamos pra porrada.

Mais um ponto no texto do Felipe Moura Brasil: a confusão de categorias.

Informação, tomada de posição, opinião, correção de erro, discordância, ataque: tudo se mistura na confusão de categorias, que é um dos maiores problemas cognitivos no Brasil. Por exemplo, você constata um fato e a pessoa entende como opinião ou justificativa. Isso acontece direto: você faz um post comentando que a delegação da Austrália se recusa a entrar na Vila Olímpica por causa do estado dos apartamentos e lá vem o crítico:

– Você sempre metendo o pau no Brasil, meu! Muda pra Austrália, pô!

Outro ponto: a incapacidade de detectar ironia e sarcasmo, o que é sintoma de inteligência pouco desenvolvida.

Também contribui para confusão de categorias o mal brasileiro de não ler o que o autor escreveu, mas o que acha que autor quis dizer no fundo. Eu já falei em programas anteriores do que eu chamei da ESCALA AÉCIO. A pessoa passa a ofender o terceiro com base na conclusão que ela própria tirou. Eu canso de ser criticado por coisas que eu não disse eu não escrevi, mas a pessoa acha que eu disse, que escrevi, pois foi isso que ela entendeu…

Raciocínio em bloco é outra praga nacional. Por exemplo: você aponta uma mentira ou ataque contra o fulano e a conclusão é que você é a favor de todas as ideias do fulano. Eu critiquei a cusparada que Jean Wyllys deu no Bolsonaro e pronto! Bastou para eu ser acusado de ser outro fascista a favor de tudo que o Bolsonaro pensa. No Brasil, há uma imensa dificuldade de entender que considerar melhor ou menos pior algo ou alguém não quer dizer concordar 100% com esse algo ou esse alguém. O nível de leitura é tão ruim no Brasil que, se você constata que brasileiro só quer saber de sexo, há quem pense que você é contra o sexo.

Tá vendo a consequência da simplificação, hein? Parece que hoje em dia só se compreende aprovação ou rejeição, amor ou ódio, idolatria ou repugnância. É falta de senso das nuances e, por consequência, falta de senso de justiça. Admitir ter opiniões baseadas em informações viciadas, ou suspender uma opinião até examinar outras, requer humildade e uma espécie de auto vexame à qual poucos são capazes. No Brasil, a necessidade de concordar, discordar e corrigir vem antes da de compreender e de assimilar.

Deixa eu repetir, vai: no Brasil, a necessidade de concordar, discordar e corrigir vem antes da necessidade de compreender e de assimilar.

Dizer “eu concordo” é, com frequência, a maneira menos humilhante de dizer “obrigado por me trazer à consciência aquilo que ainda não estava lá”.

No Brasil confrontam-se pessoas, jamais argumentos.

Muito bem! É claro que é impossível viver a vida sem conflitos e confrontos. Aliás, uma vida assim deve ser um tédio… Dos conflitos e dos confrontos saem coisas legais, a humanidade teve saltos de desenvolvimento fabulosos depois de grandes guerras, por exemplo. Sempre é possível aprender. A questão é: a que custo, hein?

Olha, acho que deu pra ter uma ideia da diferença entre conflito e confronto, não é? Assim como entender as armadilhas que nos desviam da discussão das ideias para discutir as pessoas. O que temos de fazer é manter sempre a cabeça fria, focar nas ideias, jamais nas pessoas e manter o controle da situação: queremos o conflito que convence, não o confronto que derrota.

Brigas nunca mais
Tom Jobim
Vinícius de Moraes

Chegou, sorriu, venceu depois chorou
Então fui eu quem consolou sua tristeza
Na certeza de que o amor tem dessas fases más
E é bom para fazer as pazes, mas
Depois fui eu quem dela precisou
E ela então me socorreu
E o nosso amor mostrou que veio prá ficar
Mais uma vez por toda a vida
Bom é mesmo amar em paz
Brigas nunca mais

E então é assim ao som de BRIGAS NUNCA MAIS, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, com Lisa Ono e Paulo Jobim, que este Café Brasil vai saindo de mansinho.

Com o paladino da harmonia Lalá Moreira na técnica, a barraqueira Ciça Camargo na produção e eu, esta pomba branca da pacificação, Luciano Pires, na direção e apresentação.

Estiveram conosco a ouvinte Gabriela, Leonel Brizola, Orestes Quércia, Diana, Neil Diamond, Elis Regina, Gilson Peranzzetta Trio, Lisa Ono e… Dercy Gonçalves.

O Café Brasil só chega até você porque a Nakata, também resolveu investir nele.

A Nakata, você sempre sabe, é uma das mais importantes marcas de componentes de suspensão do Brasil, fabricando os tradicionais amortecedores HG. E tem uma página no Facebook repleta de informações interessantes para quem gosta de automóveis. Dê uma olhada lá, vale a pena: facebook.com/componentesnakata.

Tudo azul? Tudo Nakata!

Este é o Café Brasil. Que chega a você graças ao apoio do Itaú Cultural e do Auditório Ibirapuera. De onde veio este programa tem muito mais. Visite para ler artigos, para acessar o conteúdo deste podcast, para visitar nossa lojinha no … portalcafebrasil.com.br.

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. Se você está fora do país: 55 11 96429 4746.

E se quiser mais ainda cara, venha para a Confraria do Café Brasil. Entre outras coisas, temos um grupo no Telegram com mais de 500 pessoas interessantes e nutritivas discutindo temas, promovendo conflitos sem confrontos, compartilhando conteúdos exclusivos, tudo em harmonia. Acesse portalcafebrasil.com.br e clique no link que fala do cérebro tanquinho.

E para terminar, da estilista Donatella Versace

A criatividade vem do conflito de ideias.