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HUGO AMARAL/OBSERVADOR

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Paddy Cosgrave. "Lisboa é um íman para atrair talento"

Em entrevista ao Observador, Paddy Cosgrave falou de Lisboa, da Web Summit, de tecnologia e de como o conceito Silicon Valley está sempre a mudar de cidade. "Não fica no mesmo sítio para sempre."

Paddy Cosgrave voltou a Lisboa para promover a Web Summit, aquele que é considerado o maior evento de tecnologia, empreendedorismo e inovação da Europa e que vai ocorrer entre 8 e 10 de novembro de 2016, no MEO Arena e na Feira Internacional de Lisboa (FIL). São esperadas mais de 50 mil pessoas. Ao Observador, o fundador do evento disse que o que pode marcar o rumo de uma cidade são as pessoas. “Há tolerância em Lisboa para a criatividade?”, questionou, sem deixar de referir que as empresas devem aproveitar a “euforia” que existe para contratar recursos altamente especializados. Porquê? Porque “Lisboa é um íman para atrair talento”, disse, à margem da conferência que as câmaras municipais de Lisboa e do Porto e a AICEP organizaram para falar sobre a Web Summit, a Startup Go Global.

"A coisa mais importante no meio disto tudo são as pessoas, é a cultura da cidade. Há tolerância [em Lisboa] para a criatividade?"

Já muito se escreveu sobre o que o Paddy Cosgrave acha de Lisboa, sobre quão maravilhosa é a cidade e a energia do ecossistema de empreendedorismo. Mas a verdade é que ainda não é uma cidade como Londres, Berlim ou Telavive. Temos o talento, as infraestruturas, mas faltam outras coisas. O que é que falta?

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Essa é uma pergunta com uma resposta difícil. Florença não era Florença antes de se tornar Florença. E havia outras cidades que eram muito mais importantes. Aconteceu o mesmo com Veneza, com Roma ou com Atenas, antes de se tornarem cidades tão importantes. E a verdade é que o ‘Silicon Valley do dia’ está sempre a mudar. Não fica na mesma cidade para sempre. Para mim, a coisa mais importante no meio disto tudo são as pessoas, é a cultura da cidade. Há tolerância [em Lisboa] para a criatividade? Há pessoas suficientes para criar coisas diferentes?

Em termos de políticas específicas, não consigo responder com certeza. Acho que se soubesse que políticas deviam ser adotadas escreveria um livro sobre as 12 mudanças políticas que podem transformar qualquer cidade em Silicon Valley. Sinto que há alguns ingredientes importantes, mas isso não significa necessariamente que vão fazer com que Lisboa seja o próximo Silicon Valley.

Será que uma das soluções pode passar por focar-se mais num setor? Londres, por exemplo, é muito forte em tecnologia financeira. E Lisboa?

Vamos tomar Londres como exemplo. Lá, as finanças foram uma espécie de cavalo que chegou primeiro à meta da corrida. Foi um efeito cluster. Já lá estavam as indústrias, criaram-se outras indústrias. Passou-se o mesmo com Silicon Valley. Por que é que a indústria dos semicondutores emergiu lá? Foi uma decisão consciente ou foi uma decisão consciente apenas para financiar uma série de investigações militares? Acho que acaba por ser uma consequência de vários incidentes.

"Lisboa é uma cidade perfeitamente habitável, a melhor cidade da Europa para se viver. Os empreendedores que forem muito espertos e conseguirem levantar uma quantia razoável de dinheiro, podem escolher viver onde quiserem"

Mas a verdade é que a Web Summit veio para Lisboa, a Second Home também, a imprensa internacional não para de dar destaque à cidade. Sente-se uma euforia grande em tudo isto.

Sim, e existe.

E há empreendedores que estão a lidar com tudo isto pela primeira vez. Como é que se devem preparar? Porque pode ser fácil dispersarem-se.

Há pouco estávamos a falar sobre talento e, se pensares em Silicon Valley, percebes que Silicon Valley não se construiu por causa do sistema de ensino da Universidade de Califórnia, por exemplo. É verdade que houve estudantes dessas universidades que integraram muitas destas empresas, mas é um facto que elas conseguiram atrair pessoas com competências muito específicas para aquela área – que se mudaram e passaram a viver em São Francisco. E tu perguntas: Porquê? Porque as pessoas começaram a dizer que era um ótimo sítio para se viver. E agora, quando leem todos estes artigos sobre Lisboa, acredito que sintam o mesmo. Que Lisboa é uma cidade perfeitamente habitável, a melhor cidade da Europa para se viver. Os empreendedores que forem muito espertos e conseguirem levantar uma quantia razoável de dinheiro, podem escolher viver onde quiserem.

Acho que a grande oportunidade que existe agora – e não é necessariamente por causa da Web Summit ou da Second Home – tem a ver com toda esta consciência que está a ser construída, no mundo todo, sobre Lisboa. Isto faz com que seja mais fácil para empresas como a Codacy ou a Farfetch pegarem no telefone e perguntarem a alguém com competências muito específicas se quer sair de Berlim e trabalhar em Lisboa. Se antes eles responderiam ‘o quê?’, agora acho que não. É difícil descrever porque é que isto acontece. Mas se pensares em São Francisco, é importante perceberes que as pessoas gostam, pura e simplesmente, de viver e de trabalhar lá.

No final, é uma escolha puramente emocional?

Sim. As pessoas querem beber um bom café, querem ir à praia, querem surfar… Querem acordar e ir a um parque qualquer. Acho que é preciso pensar em Lisboa como um objetivo em si própria. Lisboa tem aqui uma oportunidade para se tornar uma cidade global, um íman para captar talento e empreendedores de todo o lado. E isso não é, de todo, algo mau. Se fores a São Francisco, uma em cada duas pessoas que conheces não é de lá, mas foram elas que fizeram com que São Francisco se tornasse numa cidade incrivelmente rica. Falas com qualquer pessoa que tenha crescido lá, perguntas-lhes se querem que estas pessoas que chegaram da Índia, Rússia, Alemanha ou Reino Unido se vão embora e elas vão dizer que não, por favor, não. A cidade tem tanto sucesso porque todas aquelas pessoas estão lá.

"O teu trabalho, enquanto empreendedor, é preparares-te de tal forma que se sabes que precisas mesmo, mesmo, mesmo daquela reunião com aquele investidor, vais consegui-la. Esse é o verdadeiro teste."

Mas há um problema para resolver em Portugal e na Europa: a falta de profissionais de tecnologias de informação e comunicação (TIC). A Comissão Europeia estima que fiquem por preencher 825 mil vagas no setor das TIC em 2020. E a Web Summit é um evento que vive de tecnologia. Como é que pode ajudar a resolver este problema?

A falta de profissionais de TIC é um problema global e a verdade é que todos os setores mais avançados da economia tiveram, em determinada altura, um problema de falta de talento. O que se passa é isto: agora, de repente, a nanotecnologia passou a ser uma coisa muito interessante. Então, [os agentes dessa indústria] vão às escolas e universidades e dizem que precisam de mais pessoas especializadas nessa área. Até convencerem as universidades, passam alguns anos. Quando convencem, elas demoram mais anos a implementar mudanças. E, entretanto, já passou uma década. Estas universidades formam alunos altamente especializados em nanotecnologia e quando estes saem, já há outro setor novo que emergiu e precisa de pessoas. E isto vai acontecer sempre.

O que eu acho que se deve fazer é isto: olhar para a Europa, para a média dos 28 estados-membros, e perceber se o número de profissionais de TIC em Portugal está abaixo ou acima da média. Como está?

Acho que está abaixo.

[Em 2014, havia 7,997 milhões de pessoas a trabalharem no setor das TIC na União Europeia, o que dá uma média de 285,6 mil pessoas por Estado-membro, sem ajuste ao peso da população de cada país. Em Portugal, estavam empregadas 111.300, segundo os dados mais recentes do Eurostat]

Então a próxima coisa que devem fazer é olhar para as universidades e perceber se o número de pessoas inscritas neste tipo de cursos está abaixo ou acima da média europeia. Porque este será o número de pessoas que vai estar disponível para o mercado de trabalho. A porta de entrada é feita nas universidades. E é lá que se devem fazer as perguntas: estão as universidades verdadeiramente concentradas em cursos de engenharia ou semelhantes? E, se não estiverem, então é óbvio que tem de haver uma mudança de políticas em Portugal.

Regressando à Web Summit. Os empreendedores chegam e têm 72 horas para rentabilizar ao máximo a estadia no evento. Quais são os principais conselhos?

Têm de se preparar com antecedência. Reside tudo em muito trabalho árduo e alguma sorte. Conversámos com o fundador da SmartThings (que foi vendida por cerca de 250 milhões de euros à Samsung), e que, tal como a Codacy, ganhou a competição em 2012. Ele contou-nos que estiveram durante três dias a preparar-se. Não podes simplesmente aparecer e esperar que as coisas aconteçam, que os investidores apareçam. O teu trabalho, enquanto empreendedor, é preparares-te de tal forma que, se sabes que precisas mesmo, mesmo, mesmo daquela reunião com aquele investidor, vais consegui-la. Esse é o verdadeiro teste.

"Alguém me perguntou ontem o que tinha mudado nestes cinco anos. Eu respondi que o que mudou foi que o carro que eu tinha em 2010 tinha nove anos e agora tem 15. E é isso"

Devem focar-se em encontrar menos pessoas, mas certificarem-se que conseguem mesmo fazê-lo. É isso?

Sim. Tal como em tudo na vida. É espetacular perceber que não é uma espécie de pó mágico que faz com que as coisas aconteçam. A preparação é tudo, absolutamente. É isso e perceber que a Web Summit não é uma conferência das 9 às 17h. Abre às 7h da manhã. Vão aos eventos que acontecem ao pequeno-almoço, organiza a tua equipa para conseguirem ir a vários pequenos-almoços, não fiquem todos no stand ao mesmo tempo, e quando o evento acaba às 17h, na verdade está apenas a começar. Quando perguntámos ao fundador do SmartThings como é que ele se organizava, respondeu que a equipa acordava às 7h e se dividia para ir a pequenos-almoços diferentes. E explicou que o melhor acontecia depois da meia-noite. Só depois dessa hora é que as pessoas deixavam os jantares mais formais, vão beber copos e acabam por voltar para o hotel onde estão alojados. Muitos dos investidores de topo ficam alojados no mesmo hotel e os jornalistas vão estar noutro.

Nestes últimos cinco anos, qual foi a grande lição que aprendeu? A mais inspiradora.

Percebi que os empreendedores com mais sucesso no mundo são pessoas bastantes normais. Isso é a coisa mais espantosa. Não existe uma grande diferença entre os empreendedores que estão a começar e aqueles que lideram empresas de grande sucesso. Nalguns casos, esses mesmos empreendedores estavam, há três ou quatro anos, com uma mochila às costas a trabalhar num café de São Francisco. O Instagram é um exemplo perfeito disto. Se mais pessoas perceberem isto, acho que vão ficar com mais confiança para levarem as suas ideias avante. Quando as pessoas veem o líder da Farfetch nas páginas da Forbes, pensam: “é um génio”. Mas era um tipo perfeitamente normal há cerca de cinco ou seis anos. Ninguém na universidade disse: “aquele tipo é especial, é aquele”. Isso não acontece.

Então, por muito que se cresça, o truque está em ser-se fiel a si próprio?

Sim. Alguém me perguntou ontem o que tinha mudado nestes cinco anos. Eu respondi que o que mudou foi que o carro que eu tinha em 2010 tinha nove anos e agora tem 15. E é isso.

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