• Redação Marie Claire
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“A maternidade não me faz feliz, o Yuri me faz feliz. Eu não amo ser mãe”, afirma Natália Pinheiro (Foto: Reprodução Facebook)

“A maternidade não me faz feliz, o Yuri me faz feliz. Eu não amo ser mãe”, afirma Natália Pinheiro (Foto: Reprodução Facebook)

Nas últimas semanas, o Facebook foi tomado pelo “desafio da maternidade”, que consiste em convidar mulheres a publicarem três fotos que representem o lado bom de ser mãe. Porém, em meio a tantas declarações positivas sobre o assunto, alguns relatos sobre experiências desgastantes chamaram atenção e logo se transformaram em polêmica. 

Esse foi o caso da paulista Natália Pinheiro, de 25 anos. Nesta terça (16), convocada para o desafio, ela decidiu participar, mas sem endossar a premissa. “A maternidade não me faz feliz, o Yuri me faz feliz. Eu não amo ser mãe”, escreveu em desabafo. “Colocar meus planos em pausa, não dormir direito, ser cobrada sempre e sempre me sentir errada, morar sozinha com um bebê de 15 meses, estudar sem ter tempo para estudar, ser preterida em relacionamentos, ser abandonada por todas as minhas amigas, suportar sozinha o peso da nossa existência: nada disso me faz feliz.”

"A maternidade não me faz feliz, o Yuri me faz feliz. Eu não amo ser mãe""

Natália Pinheiro

Apesar de reforçar o amor que sente pelo filho independente das dificuldades, ela joga luz sobre a pressão social exercida sobre mulheres que não se sentem confortáveis em exercer tal papel. “Eu amo o Yuri. Amo com um amor que torna algumas privações mais suportáveis, algumas dores mais velozes, algumas lágrimas menos solitárias. Eu amo o Yuri, mas eu não amo ser mãe. Eu não amo ser mãe em uma sociedade que reserva a mim o papel de cuidadora inata, de Maria, de culpada. Eu não amo ser mãe em um sistema que me apedreja por dizer que eu não amo ser mãe, por dizer que ser mãe é a experiência mais triste e solitária que já vivi, por falar sobre amor sem falar sobre hierarquia, por nunca deixar ninguém dizer que amar um filho é viver só por ele. Eu sou tão importante quanto o Yuri. Minha felicidade, meus sonhos e minha individualidade valem o mesmo que a felicidade dele, os sonhos dele e a individualidade dele.”

A mesma postura foi adotada pela carioca Juliana Reis, 25, que não aceitou o desafio e aproveitou para descrever sua experiência como dolorosa e cansativa. “Quero deixar bem claro que amo meu filho, mas odeio ser mãe”, disse em um trecho do relato. “Me recuso a ser mais uma ferramenta para iludir outras mulheres de que a maternidade é um mar de rosas e que toda mulher nasceu para desempenhar esse papel.”

Para completar, Juliana fez um outro tipo de convite às mulheres. Pediu para que compartilhassem fotos de desconforto com a maternidade e relatassem seus maiores medos ou piores experiências.

"Me recuso a ser mais uma ferramenta para iludir outras mulheres de que a maternidade é um mar de rosas""

Juliana Reis



Ambos os desabafos rapidamente atraíram milhares de curtidas, além de uma série de comentários tanto de apoio, quanto de repúdio – alguns afirmando que elas devem sofrer de depressão pós-parto. O perfil de Juliana chegou inclusive a ser denunciado e posteriormente bloqueado.

Em resposta aos julgamentos, Natália esclareceu que a crítica era “sobre o modelo de maternidade atual que funciona para que mulheres sofram”. E acrescentou: “A imagem da força materna é glorificada não por amor ou admiração, mas para que mães – tão fortes – continuem arcando sozinhas com a criação de crianças. Quando elogiam minha força me entristeço. Orgulho-me de méritos na minha maternidade. Fiz escolhas por amor e conhecimento. A minha força não foi uma escolha. A minha força foi, e é a minha sobrevivência.”